Lembrei-me agora de uma estória interessante. Quando frequentava a escola, na altura em que os telemóveis eram uma miragem de filme e os computadores não passavam além de um caduco ZX Spectrum (tão bom), tinha um amigo que, na gíria, era uma besta. Nunca estava bem com nada e com ninguém. Tínhamos várias discussões, nomeadamente a nível político/associativo. Se para 99% da pessoas uma situação apresentada era positiva, para ele era completamente descabida. Se os cacifos eram óptimos para guardar livros, para ele eram péssimos porque ocupavam espaço desnecessário. Se o investimento em livros de qualidade para a biblioteca era fundamental para a progressão de vários alunos no seu percurso, para ele era um gasto fulcral, "tirem fotocópias seus capitalistas" dizia ele... A parte mais interessante é que este meu amigo era o único que nos anos 80 tinha uma caso com piscina, várias governantas, um campo de ténis em casa, a melhor bicicleta da zona, a única revista de edição limitada em que o Batman destruía o Joker, andava de BMW com os pais e ia sempre de férias de verão. Infelizmente, não era capaz de emprestar 50$ para comer uma tosta mista na cantina. Dizia ele: "o que é meu é meu, mas tem que partilhar o que é vosso". Este meu amigo chama-se João, mas podia muito bem chamar-se CGTP, ou PCP ou até Bloco de Esquerda. Que nomes de feios...
